sábado, 26 de dezembro de 2009

Futebol para mulheres cegas

História
Porque não enxergamos obstáculos.
É inegável que, nos últimos anos, um dos esportes de maior crescimento em popularidade no Brasil e no mundo tem sido o futebol feminino. As duas medalhas de prata consecutivas obtidas pela seleção brasileira da modalidade nas Olimpíadas de Atenas (2004) e Pequim (2008) fizeram com que jogadoras como Marta e Cristiane se tornassem conhecidas entre os brasileiros. Na onda do sucesso do esporte, alguns países já contam com campeonatos bem estruturados da modalidade. E o paradesporto não podia estar de fora dessa tendência mundial. No ano de 2007, a cidade alemã de Tubingen foi lar do primeiro workshop no mundo voltado ao ensino e prática de futebol para meninas e mulheres cegas e deficientes visuais. Por trás do projeto, estava o professor da Urece, Gabriel Mayr. E a Alemanha, uma das potências do futebol feminino convencional, manteve o pioneirismo na modalidade paradesportiva. Desde então, mais dois workshops foram ministrados naquele país. O último deles aconteceu na cidade de Stuttgart, em setembro de 2009, tendo como um de seus instrutores o vice-presidente da Urece e atleta de futebol, Marcos Lima. Foram doze meninas vindas de várias partes da Alemanha, divididas em três grupos, segundo seus níveis de aptidão e experiência. O ginásio do clube MTV Stuttgart foi lar, no dia 5 de setembro de 2009, da primeira partida de futebol entre mulheres cegas da história. Os organizadores do workshop dividiram as participantes em três times de igual potencial, realizando assim um torneio com regras oficiais. A Alemanha é o único país que conta com mulheres cegas jogando oficialmente. Por não haver número suficiente de meninas para montar diversas equipes e organizar assim um campeonato próprio, as mais experientes são inseridas nas equipes masculinas durante a disputa da Blinden Bundesliga (o Campeonato Alemão de Futebol para Cegos). Ainda em processo de adaptação, as meninas começam a fazer a diferença em alguns times. Aneta foi a primeira mulher a marcar um gol em uma partida oficial entre os homens. Por isso, nada mais natural do que a Alemanha sediar o primeiro campeonato de futebol feminino para cegas no mundo. Organizada pela Deutscher Blinden- und Sehbehindertenverband e.V. - DBSV (Associação alemã de Cegos e Deficientes Visuais) o torneio contará com cinco equipes, sendo quatro da Alemanha e uma do Brasil, a Urece Esporte e Cultura.
O futebol feminino chega ao Brasil
A história do futebol feminino para mulheres cegas no Brasil confunde-se com a história da equipe Urece/America da modalidade. Idealizador do workshop em TUbingen, Gabriel Mayr trouxe o esporte para o Brasil. Em julho de 2009, a Urece formou a primeira equipe de futebol feminino do continente, reunindo seis atletas que já praticavam outros esportes na associação. O primeiro desafio da equipe é justamente o torneio internacional de Marburg. Graças a uma parceria com a organização do evento, a Urece obteve 11 passagens aéreas e ferroviárias , além de hospedagem para as atletas e comissão técnica. As meninas treinam no ginásio B da sede do America Football Club, no bairro carioca da Tijuca. Sobre a supervisão do mestre em educação física Gabriel Mayr, a equipe vem sendo treinada por Fausto Penello, Zélio Vianna e Thales Habib.
Madrinha de luxo
Um mês antes da realização da competição, a Urece ganhou o reforço de uma ilustre torcedora. Graças a contatos promovidos pela Urece, a três vezes melhor do mundo no futebol feminino, a atleta Marta, aceitou o convite para ser madrinha da equipe, aliando seu vitorioso nome a essas meninas pioneiras. Na cerimônia, ocorrida na cidade de Santos, as atletas da URece entregaram-na uma placa em braille com os dizeres "madrinha Marta". A saga das meninas da Urece, apoiadas por sua ilustre madrinha, foi assunto de matéria do semanário esportivo Esporte Espetacular, exibido pela Rede Globo de Televisão, o que deu outra dimensão ao projeto. (veja mais abaixo, em "futebol feminino na Urece").
Regras
As regras do futebol feminino seguem em sua totalidade as regras do futebol masculino para cegos. As partidas são realizadas em quadras abertas ou fechadas, das mesmas dimensões que as utilizadas na prática do futsal convencional, para pessoas que enxergam. A única modificação espacial necessária é o que se chama de banda lateral, um conjunto de compensados de madeira de um metro e meio de altura que percorre toda a lateral da quadra. Dessa maneira, a bola só sai de jogo após ultrapassar a linha de fundo, o quê dá ao esporte um dinamismo muito maior. As goleiras enxergam normalmente (videntes). Mas, para evitar que influam demasiadamente na dinâmica da partida, elas têm sua área de atuação restrita a uma pequena zona retangular de 2 por 5 metros, próxima ao gol. Além disso, um guia denominado(a) chamador(a), posicionado atrás do gol adversário, orienta as jogadoras de ataque de sua equipe. Para evitar que haja disparidade entre as atletas provocadas por possíveis resíduos visuais, a regra as obriga a utilizarem o Tampão Oftalmológico, recoberto por uma venda. No entanto, o elemento mais curioso que envolve o esporte é a bola, especialmente produzida para a modalidade. Ela tem a superfície recoberta por gomos dentro dos quais são acondicionados e costurados guizos de ferro. Quando a bola está em movimento, esses guizos balançam em seu interior e o som produzido orienta as atletas.

Um comentário:

  1. Como no país que designa-se "país do futebol",nos deparamos ainda com vários preconceitos referentes a futebol feminino,ainda mais futebol feminino para mulheres cegas.
    Será que vivemos ainda na idade média ,onde as mulheres eram vistas como meras donas de casa,ou na Grécia antiga,que serviam apenas para reprodução.
    O papel feminino no futebol ou no esporte em geral,tem que ser mais incentivado e aflorado.
    Bom seria se nossas autoridades prestassem mais atenção nesses detalhes.

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