quarta-feira, 5 de agosto de 2009

O Desenbargador do TRT cego


Ricardo Tadeu da Fonseca - DERROTA DO PRECONCEITO

Em 1991, depois de deixar para trás cerca de 5 mil candidatos, Ricardo Tadeu da Fonseca, de 50 anos, tornou-se o primeiro procurador cego do Ministério Público do País. Quase 18 anos depois, Fonseca é agora o primeiro juiz portador de deficiência visual. Ele foi nomeado, no último dia 16, desembargador do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 9ª Região, em Curitiba (PR). Ele perdeu completamente a visão aos 23 anos e, além das dificuldades para conseguir o primeiro emprego, chegou a ser afastado do processo seletivo do TRT de São Paulo, com a “justificativa de que uma pessoa cega não poderia ser juiz”. Fonseca também é um dos responsáveis pela elaboração do texto da Convenção dos Direitos de Pessoas com Deficiência.

1 – Como avalia este momento da sua carreira profissional?
Depois de 18 anos de trabalho no Ministério Público do Paraná, decidi entrar nesta empreitada para realizar um sonho de atuar na magistratura. Era um desejo que se manifestava desde o início da minha carreira profissional. Foi uma honra estar entre os indicados pelo Tribunal Regional do Trabalho para que o presidente Lula escolhesse quem ocuparia o cargo. Essa indicação já foi uma aceitação da ideia dos próprios juízes do tribunal de que uma pessoa com deficiência visual pode exercer a magistratura. É um sinal de progresso entre as relações sociais no Brasil.

2 – Quando perdeu a visão?
Tive baixa visão até os 23 anos por causa de uma paralisia cerebral que sofri quando nasci. Mas deixei de enxergar totalmente quando cursava o terceiro ano da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP).

3 – E o que vai precisar para exercer o trabalho de juiz no TRT?
Todos os desembargadores têm assessores e eu vou tê-los também. Vai haver um trabalho de digitalização de todos os processos aqui do tribunal. Então, vamos adotar os programas de leitura de tela do computador. O tribunal está completamente aberto e oferecendo toda a estrutura necessária.

4 – Como avalia a inclusão de deficientes no País?
Ajudei a delegação brasileira na redação do documento e no processo de ratificação da Convenção Internacional sobre Direitos de Pessoas com Deficiência, aprovado pela ONU. Nós estamos em uma fase inicial no que diz respeito à inclusão de deficientes na sociedade. Na América Latina, o Brasil é um país de vanguarda, mas, em relação ao primeiro mundo, temos muito que avançar na questão da acessibilidade de espaços físicos, da utilização da língua dos sinais nas universidades e em outros estabelecimentos. A sociedade brasileira está muito fechada para aqueles que possuem alguma deficiência intelectual também.


Folha Universal 02-08-09

Um comentário:

  1. Esta reportagem é de grande valia a todos, uma deficiência não impossiblita uma pessoa de seguir seu sonho, suas metas, mesmo sendo o processo mais trabalhoso mas vivendo a vida pleanamente. Não fazendo da deficiência sua vida, apenas covivendo com ela e aprendendo com ela.

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